A demanda por alternativas ao uso do sódio na indústria de alimentos deve crescer nos próximos anos, segundo executivos ouvidos pelo DCI.O movimento pode ser estimulado pelas metas do Ministério da Saúde para redução do teor de sódio nos alimentos.
“O mercado de sódio no Brasil ainda é pouco explora-do, embora a discussão tenha começado há cerca de cinco anos”, observa o presidente para América Latina da Nutrionix, Jean Secondi.
Ele conta que a empresa, focada em soluções para redução de sal na indústria, está apostando na demanda por alternativas para atender às metas do governo.
“Primeiro, as indústrias investiram na retirada do sal, agora elas estão ingressando numa segunda fase, que é a redução do sódio”, diz ele. Para o executivo, embora não exista uma projeção exata de quanto esse mercado pode movimentar, a meta estabelecida pelo governo é o melhor parâmetro do potencial de negócios no setor.
O objetivo do governo é que até 2020 sejam retirados cerca de 28 mil toneladas de sódio do mercado, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos (Abia).
Desde junho do ano passa-do a empresa investe na ins-talação de um laboratório de pesquisa no Brasil. Secondi explica que a empresa planeja desenvolver produtos específicos para cada cliente e terceirizar a produção.
Ele conta que a Nutrionix quer atender toda a cadeia de alimentos, desde fabricantes e cozinhas industriais, até o consumidor final.
A empresa espera oferecer produtos que respondam por uma redução de até 20% no teor de sódio dos alimentos.
Depois do Brasil, o plano é explorar o mercado potencial em outros países da América Latina que têm políticas de redução da substância.
“O preço também é parte importante da nossa estratégia e a nossa meta é que o custo com a substituição do sódio para os nossos clientes da indústria represente um acréscimo de menos de 1% no custo total de produção”, explica ele.
Na Bunge, seis produtos do portfólio de margarinas foram reformulados em 2013 para atender a meta de redução de sódio do governo. A companhia trabalha em parceria com outras empresas do setor e o Ministério da Saúde no Acordo para Redução de Sódio em Alimentos Processados.
De acordo com seu último relatório de sustentabilidade, a Bunge também tem metas para diminuir o sódio nas linhas para food service e indústrias. Além disso, a companhia investe para reduzir o teor de gordura trans dos produtos e destaca a importância do im-pacto nos custos para a adesão às medidas de redução.
“O aumento das linhas compostas por produtos com gor-duras vegetais de baixos teores de gorduras trans depende da adesão desses ingredientes por um número maior de indústrias, especialmente as pequenas e médias. Isso porque essas empresas são sensíveis a qualquer variação de custo de matéria-prima, e as mudanças demandam investimentos em pesquisa e desenvolvimento”, destaca a Bunge em relatório.
Já a M. Dias Branco, dona das marcas, Adria e Basilar, investiu R$ 3,1 milhões em pesquisa, desenvolvimento e inovação, no ano passado. Segundo a fabricante, parte desse aporte foi destinada à diminuição do sódio.
Na BRF, a quantidade de sódio também vem sofrendo redução por meio de investimentos em tecnologia para desenvolver ingredientes.
“Já reduzimos a quantidade de sal em hambúrgueres, nos nuggets, nas mortadelas, nas margarinas, nos embutidos, nas linguiças, nas lasanhas e em outros pratos prontos”, afirmou a BRF em comunicado divulgado em seu site.
Tendência global
No início deste mês, a Nestlé anunciou que cortará o sal em alguns alimentos comercializados nos Estados Unidos.
A meta da gigante do setor é reduzir em até 10% a quantidade de sal em seus lanches e pizzas congeladas até o final do ano. A ação incluirá também a re-moção de aromatizantes. Ao todo, as medidas adotadas devem impactar mais de 250 produtos do portfólio.
Consumidor final
A Abia ressalta, entretanto, que apesar da iniciativa do setor para reduzir o sódio, o consumidor final ainda responde pela maior parte da adição da substância aos alimentos.
“A indústria é responsável por apenas 23,8% de todo o sódio consumido pelos brasileiros, contra 76,2% que é adicionado diretamente pelo próprio consumidor em restaurantes e preparações culinárias”, pondera a associação em seu site.
Para atender a demanda desses consumidores, a paranaense Sanibras lançou em março desse ano um salgante sem sódio para substituir o sal no consumo doméstico.
“Desde o lançamento a aceitação do produto tem sido boa, com o consumidor passando a procurar os produtos nos pontos de venda”, revela o diretor de marketing da empresa, Glauco Lichoveski.
O executivo explica que a empresa optou por vender o produto primeiro em farmácias, com foco nos consumidores hipertensos. “Por ter preço elevado quando comparado ao sal tradicional, nosso foco agora é em quem precisa do produto por questões relacionadas a saúde”, diz ele. Uma embalagem com 100 gramas é vendida por cerca de R$ 26.
Lichoveski afirma que a Sanibras está investindo para reduzir em 20% o preço do produto nos próximos 12 meses. Paralelamente, vai ampliar a distribuição para supermercados com novas embalagens e estuda fornecer o produto para as indústrias. Atualmente, a empresa vende em média 50 mil unidades por mês.
“As metas e o incentivo do governo para redução do uso e consumo de sódio tem feito com que as pessoas fiquem mais propensas a buscar alternativas”, reconhece ele.
Fonte: Jéssica Kruckenfellner, São Paulo