O Brasil vem descobrindo uma maneira de exportar commodities agrícolas comuns com maior valor agregado. Há alguns anos, o país se consolidou como uma potência na exportação do agronegócio in natura, mas está em crescimento a exportação de alimentos processados, como pratos congelados industrializados, com custo final mais elevado, mas atraentes em termos de rentabilidade em reais para os exportadores. O tempero brasileiro em comidas prontas garante o aumento de ganhos e ainda permite ao empresário driblar as dificuldades causadas pela recessão no mercado doméstico.
Um desses exemplos é a empresa mineira Maricota, que, nos últimos cinco anos, deixou de depender exclusivamente do mercado interno e passou a fornecer pão de queijo, lasanha, pizza e salgados em geral para Europa, EUA, América Latina e países árabes.
— Temos inclusive o selo Halal, para vendermos aos países muçulmanos. Estamos conquistando mercados importantes e consolidados — explicou Arnaldo Peçanha, proprietário da empresa.
Enrico Milani, da paranaense Vapza, conta que um dos segredos do sucesso é promover os produtos em feiras mundiais. Outra dica é a inovação:
— Nosso produto tem um conceito diferente. Já é cozido e embalado a vácuo. Além disso, trabalhamos com carnes e vegetais orgânicos.
Se as empresas pequenas estão aproveitando essa onda, as grandes e tradicionais exportadoras já nadam de braçada. As exportações totais da BRF, que consideram comidas prontas e itens in natura, cresceram consideravelmente no primeiro trimestre de 2016. No período, a companhia exportou mais de 330 mil toneladas de alimentos. No comparativo entre o primeiro trimestre de 2015 e igual período de 2016, as exportações para a Ásia atingiram 125 mil toneladas, avanço de 12,8% no período; as vendas para a Europa atingiram 57 mil toneladas, alta de 33,4%; as exportações para a América Latina totalizaram 12 mil toneladas, avanço de 56,9%; e as vendas para a África atingiram 37 mil toneladas, aumento de 6,4%.
“Os mercados mais representativos (da BRF no primeiro trimestre de 2016) foram: Europa, América Latina, Oriente Médio, África e Ásia”, informou a empresa.
‘MERCADO DA SAUDADE’
Segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), a exportação de alimentos processados está em ligeira queda, mas os alimentos industrializados prontos para o varejo avançaram 17% no primeiro trimestre, em relação a 2015. Eles perdem só para a alta na exportação de vinhos e cachaças.
Os desafios, porém, são enormes. Maurício Manfré, supervisor de Projetos Setoriais da Apex-Brasil, destaca que a exportação de alimentos prontos muitas vezes esbarra em barreiras não tarifárias. O pão de queijo, por exemplo, não pode ir pronto para a Europa, onde não são aceitos lácteos estrangeiros. A solução é enviar a massa e adicionar o queijo lá.
Manfré explica que a exportação de alimentos tem um caminho de entrada pelo “mercado da saudade”, dos expatriados brasileiros que procuram aquilo que estavam acostumados a comer aqui. É por isso que, nos EUA, por exemplo, é cada vez mais fácil encontrar produtos como o cheese roll: nosso famoso pão de queijo.
Para o diretor do Departamento de Economia e Estatística da Associação Brasileira das Indústria de Alimentos (Abia), Denis Ribeiro, a comida pronta é uma tendência da sociedade moderna. Um dos segredos para exportar é adequar o produto à exigência do consumidor:
— Há exigências sanitárias, de embalagens e até culturais — completou.
Fonte: O Globo